Tomei no Cu e Updates

É um sentimento estranho avaliar currículo de gente vinte anos mais velha do que você. Acredito muito que o estofo mental de 90% das pessoas no mercado de trabalho é constituído pelo adágio fake it till you make it e pela síndrome do impostor. Eu imagino que até o presidente da federação às vezes se olha no espelho e vê isso aqui:


Mas quando você tá seguindo um plano de carreira básico da classe média (facul -> estágio por indicação -> primeiro emprego -> sugação de caralhos gerenciais em doses diárias) existe uma estrutura de apoio que compensa a sua falta de confiança dando-lhe responsabilidades menores. Porque o empresário/diretor entende que 90% das pessoas que trabalham ali são analfabetos funcionais incapazes de tomar decisões racionais e financeiramente saudáveis. (Lembrando que toda empresa só existe para ter lucro, coisa que essa geração babaca de agência de publicidade descontraída adora camuflar). Por isso também acho que no BR é mais comum encontrar o tipo empresário controlador que concentra toda autoridade na sua mão e não consegue delegar nada. O caminho é tão fodido que só dá pra dormir tranquilo sabendo que você, e só você, é responsável pela caminhada.

Digo isto porque preciso justificar a minha ausência no blog que mal comecei. Como disse no último post, estava em ritmo de crescimento na empresa, aportando legal, com boas perspectivas. Eu sou um planejador obsessivo, então gosto de sempre estar de olho se alguma coisa está fora do normal. Eu bolei "planos de contingência" no caso de alguma coisa der errado (quando você trabalha com gente pela internet, é muito fácil ficar sem comunicação com algum filho-da-puta importante). Esses planos foram bolados tendo em vista alguns pontos fracos dentro da minha estrutura, ou seja, eu sempre fico analisando onde estão as maiores chances de dar merda (geralmente é onde eu não tenho total controle).

PLOT-TWIST: Quase quebrei. 

Só não quebrei porque eu tinha minha pequena reserva e trabalhei feito um corno-manso sem descanso pra botar a parada de volta aos trilhos. E o pior de tudo: o problema surgiu em um lugar em que nunca pensei que pudesse surgir. Fiquei tão obcecado com os pontos-fracos da minha empresa que o ponto-forte peidou pra trás e acabei tomando na rabiola. Me sinto traído por todos os professores que me ensinaram análise SWOT de bosta.

Não quero dar detalhes sobre a minha empresa e o ramo onde atuo. Mas digamos que 90% dos meus clientes chegavam até mim por um funil X (Cagada 1). O funil X decide, um belo dia, ser obliterado violentamente sem aviso prévio. O Imperador Barbudo está muito sobrecarregado e atolado de funções. Cagada 2: IB pensa "eu vou terminar esse mês sem fazer vendas novas, botar a casa em ordem e aí resolvo esta merda". Passa o fim do mês e o IB não conseguiu fazer o funil X voltar a funcionar.  Depois de muitas tentativas falhas (porque o IB não tem conhecimento técnico específico sobre o assunto), o burro decide contratar algum freelancer que possa resolver o problema. Depois de muita enrolação, passam-se 2 meses sem vendas novas o ninguém conseguiu resolver A PORRA DO PROBLEMA. Nesse momento eu já estava contemplando fechar tudo e voltar para a casa dos meus pais, com o rabo entre as pernas. Por sorte alguns clientes milagrosos chegaram por indicação e despejaram uma boa quantia no meu colo (incomum). Depois de algum tempo, achei um cara (vamos chama-lo de SALVAÇÃO) que poderia resolver o meu problema, joguei dinheiro em cima dele e fiz aquele sinal da cruz que jogador faz antes de bater o pênalti.


O que eu falava todo dia ao acordar pra minha esposa. 


O Salvação então consegue fazer o fluxo de clientes voltar a 20% do que era antes. IB vê este sinal de melhoria e pensa "vou voltar com tudo!". Resultado: contrata o próprio irmão para gerenciar as vendas, apostando que a porra toda vai girar maravilhosamente (de modo totalmente sem planejamento CAGADA 3 - RED ALERT).  Pensando bem, eu só poderia estar totalmente fodido psicologicamente pra tentar dar um salto tão grande (até então eu era o comercial sozinho) com tão pouca estrutura e tão pouco tempo. 2 semanas se passam e as vendas ainda estão 20% do que eram, irmão do IB está tocando o foda-se (não é todo mundo que se adapta ao esquema home-office, são muitas as distrações) e o IB está com uma viagem marcada para visitar os pais da Senhora Imperatriz em um lugar sem acesso a computador. Por muito menos eu já havia me dopado de ansiolíticos no passado. Respirei fundo e continuei trabalhando sem parar. De 10 a 13h por dia - inclusive sacrificando fins de semana. (Lado positivo: nesse período aprendi a valorizar uma boa noite de SONO).

Voltei desta viagem há 1 semana. Lá consegui pagar uma lan-house milagrosa (cidade pequeníssima e no interior do cu do mundo) e trabalhei mesmo "em férias". Passei um frio danado. Recebi uma ligação do meu irmão dizendo que havia recebido uma proposta muito boa de emprego para início ASAP que resolveu os nossos dois problemas ao mesmo tempo. O Salvação começa a fazer um trabalho melhor e o fluxo de clientes volta a 70% do que era antes. Foi uma boa viagem - perdi muitos passeios, mas ao mesmo tempo consegui recompor o caixa (fiz uma reserva de R$8k) e isso me deixou tranquilo com os gastos. Depois de chegar à minha cidade (a sensação boa de deitar na sua cama depois de 1 semana dormindo em colchão no chão gelado), ainda tinha muitas pendências pra resolver e não consegui descansar. Mais uma semana de trabalho intenso e agora o ritmo está diminuindo. Pouco a pouco está tudo voltando ao normal. Estou com minha reserva novamente. Posso pensar em crescer, em ganhar mais. Posso reestruturar a empresa para me proteger desses danos no futuro. De quebra contratei o freelancer para me dar um suporte mensal e resolver possíveis problemas.

Foi um período complicado. Mas agora, escrevendo este post, posso dar alguma closure para a experiência. Cresci um pouco como profissional e como gente.  Com este período de relativa tranquilidade posso focar em produzir mais conteúdo para o blog (tenho uns 6 posts grandes já começados) e outros side-projects. Nessa vida de não-assalariado nada é garantido mas a liberdade compensa. 

(O próximo post será sobre J. D. Rockefeller e as lições de caráter).



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